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domingo, maio 09, 2010

A Taça das Bolinhas é do Flamengo!


Taça das Bolinhas

Zico com a Taça das Bolinhas após título brasileiro de 1983.


A chamada Taça das Bolinhas, envolvida em grande controvérsia, seria entregue definitivamente ao clube que primeiro conquistasse o Campeonato Brasileiro de Futebol três vezes consecutivas ou cinco de forma alternada. Nesse cômputo não se inclui título da Copa do Brasil.
A pendenga da Taça das Bolinhas teria origem em 1987, ano em que o Clube de Regatas do Flamengo sagrou-se campeão da Copa União, competição organizada pela "União dos Grandes Clubes do Futebol Brasileiro - Clube dos Treze", porque a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por falta de recursos financeiros, havia desistido de realizar o campeonato nacional.
A Copa União (Módulo Verde) seria disputada pelos times do Clube dos Treze (Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco da Gama) mais três clubes convidados (Coritiba, Goiás e Santa Cruz), totalizando assim 16 equipes participantes do Campeonato Brasileiro de 1987 da primeira divisão, conforme determinação da CBF.
Da Copa Brasil (Módulo Amarelo) desse ano participariam também 16 equipes: América-RJ (que, em protesto, desistiu da competição), Atlético-GO, Atlético-PR, Bangu, Ceará, Criciúma, CSA-AL, Guarani, Inter de Limeira, Joinville, Náutico, Portuguesa, Rio Branco-ES, Sport, Treze-PB e Vitória-BA.
Com o intento de conciliar interesses e se apaziguar (?) com o Clube dos Treze, a CBF inventou o artifício de o título nacional daquele ano ser decidido em um quadrangular final, que seria disputado pelos campeões e vices dos módulos Verde (Flamengo e Internacional) e Amarelo (Sport e Guarani).
Situação semelhante haveria se a CBF não reconhecesse o título de campeão brasileiro da Série A (primeira divisão) conquistado pelo Flamengo em 2009 – tornando-se hexacampeão nacional legítimo (1980, 1982, 1983, 1987, 1992 e 2009), como, aliás, tem sido proclamado pela TV Globo e por outros veículos de imprensa –, e quisesse obrigar o time rubro-negro a decidir de novo o título nacional em confronto com o Vasco da Gama, campeão da Série B (segunda divisão) no ano passado.
O Clube dos Treze – composto atualmente por 20 equipes, incluindo o Sport Clube Recife –, com a anuência de todos os membros da associação, inclusive do São Paulo Futebol Clube, não concordou com a proposta descabida da CBF, e a tal decisão esdrúxula em um quadrangular final não aconteceu.
O Flamengo, computando o irrefutável título de 1987, conquistou o pentacampeonato brasileiro em 1992, e, consequentemente, o direito de posse da Taça das Bolinhas, que deveria ter-lhe sido concedida naquela oportunidade. Não obstante, a CBF mantém injustificavelmente o troféu guardado até hoje.
O São Paulo, signatário da decisão contraposta do Clube dos Treze, em ação incoerente e injusta, de forma antiética e imoral, reivindica a dita Taça, por ter se tornado pentacampeão em 2007, quinze anos depois de igual conquista do Flamengo.
Mudança de posição e descumprimento de compromisso assumido, inclusive com papel assinado, são coisas corriqueiras no campo político e futebolístico.
Se o Clube dos 13 e o próprio Flamengo estivessem errados, por que o senhor Ricardo Teixeira, presidente da CBF, não entregara a Taça das Bolinhas para os "bambis" em 2007, assim que o São Paulo conquistou o seu quinto título brasileiro? Não o fez, simplesmente pelo fato de que não existiria embasamento legal para destinar o troféu aos são-paulinos. Isso ratificaria o inquestionável direito do Flamengo à Taça das Bolinhas.
É sabido que Ricardo Terra Teixeira, 62 anos – que se elegeu presidente da CBF pela primeira vez em 1989, e se mantém no cargo até hoje, 21 anos depois –, ambiciona a cadeira que fora ocupada por seu ex-sogro e ex-presidente da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), Jean-Marie Faustin Godefroid de Havelange, o João Havelange, 94 anos. Havelange, hoje presidente de honra da Fifa, dirigiu esta entidade por 24 anos (1974-1998). Antes disso, o cartola nonagenário foi vice-presidente (1956-1958) e durante 17 anos (1958-1975) ocupou a presidência da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), organização precursora da CBF.
Mas antes de concorrer à almejada presidência da Fifa – entidade máxima do desporto-rei mundial, com sede em Zurique, na Suíça –, após a Copa do Mundo de 2014, quando terá completado 25 anos à frente da direção da CBF, o mandatário maior do futebol brasileiro pretende colocar em seu lugar uma pessoa de absoluta confiança da sua patota.
Podemos imaginar do que esses dirigentes esportivos são capazes para dar as cartas no mundo do futebol por tanto tempo. É notório que cartolas politicalhos e oportunistas modificam e manipulam estatutos e regulamentos conforme seus interesses. Derivaria de uma absurda manobra regulamentar a questão pendente há tanto tempo da Taça das Bolinhas.
Entre as pessoas confiáveis dele (Ricardo) para presidir a CBF estariam Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo, e Marcelo Campos Pinto, executivo da Globo Esportes – da Rede Globo, que possui demasiado controle sobre o futebol brasileiro, obrigando os times a jogarem após às 21h45, para não atrapalhar a transmissão de telenovela e reality show bestial, exibidos em horário nobre da TV.
Os dirigentes inescrupulosos e irresponsáveis não estão nem aí para o torcedor apaixonado que gosta de ir ao estádio de futebol para ver o seu time jogar. Os executivos inconsequentes não se importam nem um pouco com o trabalhador brasileiro que precisa levantar cedo no dia seguinte, ou no mesmo, pois muitos jogos terminam depois da meia-noite. Não é à toa que os clubes estão falidos e o futebol brasileiro está decaindo cada vez mais.
Para concretizar seu projeto (ou negócio) monstruoso, o grupo dominante do futebol brasileiro (leia-se Ricardo Teixeira, João Havelange e dirigentes da Rede Globo, entre outros) precisaria tomar também o comando do Clube dos Treze. E no projeto de poder dessa facção perversa se inclui ainda o controle da Confederação Sul-Americana de Futebol.
Então, com o escabroso propósito de domínio integral (da área) do desporto-rei, os coronéis deletérios do futebol tupiniquim lançaram Kléber Leite, ex-dirigente rubro-negro, como candidato à presidência do Clube dos 13, na disputa com Fábio Koff, que buscava a reeleição.
Apesar da pressão da TV Globo, do montante extraordinário de dinheiro da CBF dado pelo mandachuva Ricardo Teixeira para alguns clubes de futebol, e de outras vantagens prometidas a presidentes de clubes – como, por exemplo, o cargo de chefe da delegação brasileira na Copa da África do Sul, oferecido a Andrés Sanchez, presidente do Corinthians –, Koff derrotou o competidor Leite no pleito realizado em 12 de abril deste ano, por doze votos a oito. Com certeza, foram oito votos de cartolas corruptos, incorretos e interesseiros.
Vale ressaltar que entre os que votaram contra o flamenguista Kléber Leite, candidato do mandarim Ricardo Teixeira, está a própria presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, e o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio.
Só por que a flamenguista Amorim tomou a atitude corajosa de votar contra o candidato do todo-poderoso "Ricardinho", este (ou a CBF?) resolve retaliar o Flamengo, declarando que agora daria a Taça das Bolinhas para o São Paulo?
E seria também pelo mesmo motivo de o são-paulino Juvêncio ter votado no opositor deles (Kléber e Ricardo), que o “doutor” Teixeira estaria fazendo tudo para que o Estádio do Morumbi, que pertence ao São Paulo, seja excluído da lista de estádios que sediariam jogos da Copa do Mundo no Brasil. Ou deseja ele pelo menos impedir que o jogo de abertura da Copa 2014 seja realizado no estádio são-paulino. O jogo de encerramento do Mundial deverá acontecer no Estádio Mário Filho (Maracanã), no Rio de Janeiro.
É bom lembrar que o presidente da CBF mais de uma vez ameaçou entregar a “taça da discórdia” para o São Paulo, mas diante de protestos da massa flamenguista sempre recuou da ideia de cometer tal barbaridade e injustiça. Isso comprovaria que a decisão delirante do cartola-mor brazuca de dar a Taça das Bolinhas aos são-paulinos seria estritamente política, ou seja, sem qualquer fundamento técnico e jurídico.
Aliás, vale destacar que – com o reacendimento da famigerada polêmica após a eleição do Clube dos Treze, em que Fábio Koff foi reeleito presidente – o perdedor Kléber Leite, ex-mandatário rubro-negro, enviou carta à presidência do Flamengo afirmando veementemente o direito do clube à Taça das Bolinhas.
Portanto, verifica-se mais uma vez a inconsistência, a incoerência e a incongruência da presidência da CBF. Isto é, do ditador Ricardo Teixeira, ao querer, como represália, entregar hoje a Taça das Bolinhas para o São Paulo.
Caso essa imperdoável arbitrariedade seja levada a efeito, além de um contra-senso, seria um desmando e uma leviandade da cartolagem politiqueira. Esperamos que haja juízo e não seja praticado esse ato infundado, indecoroso, insensato.
A vingança do autoritarismo desportivo-futebolístico tem que ser derrotada pela vitória da verdade. O troféu conhecido como Taça das Bolinhas é verdadeiramente, de fato e de direito, do Clube de Regatas do Flamengo e da Nação Rubro-Negra.
Nelson Heinzen,
Itajaí – SC.
[DL, 03/05/2010, p. 14]
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