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sexta-feira, outubro 21, 2005

Referendo 2005

Está sendo promovida a campanha sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munição no Brasil, e o referendo acontecerá no dia 23 de outubro de 2005. Mas qual seria o verdadeiro motivo da realização dessa consulta popular?
Você, cidadão de bem, acredita que os políticos deste país estão preocupados com a mortalidade dos pobres? Sabe-se que muita gente perde a vida assassinada por arma de fogo. Mas, com certeza, número muito maior de pessoas vai a óbito por falta de atendimento nos hospitais ou morre de fome pelos quatro cantos do país. Os acidentes de trânsito, causados em grande parte por estradas mal conservadas, ceifam mais vidas que os crimes armados.
Se fosse uma coisa importante para a população brasileira em geral muito dificilmente o referendo da proibição do comércio de armas seria realizado. Então, por que os comandantes deste país estão promovendo esse "plebiscito" duvidoso? No palavreado dos que defendem a proibição não encontramos resposta convincente, e nem nas declarações dos contrários. Nos programas do horário eleitoral gratuito na televisão são ditos tantos despautérios quanto os que estamos acostumados a ouvir nas corriqueiras propagandas eleitorais. Até os artistas alienados, que se vendem por algumas moedas, e a mídia hipócrita estão defendendo a proibição como se isso fosse a táboa de salvação. Desarmar a população civil não é a solução. A causa maior da violência e da criminalidade não está nas armas de fogo, mas na escandalosa desigualdade social imperante em nosso país, ocasionada pela exacerbada concentração de renda.
O Brasil está no topo do ranking dos países com maior concentração de renda do mundo. Ou seja, o país é um dos mais probres do planeta. Somos uma nação de oportunidades desiguais. Enquanto uma minoria ínfima apropria-se da fatia maior da renda, o resto da sociedade vive com recursos minguados. Dizem que não há recursos suficientes para resolver os problemas que afligem o povo brasileiro. Mas não falta dinheiro para dar aos capitalistas estrangeiros nem para encher as burras dos banqueiros e dos empresários desonestos e nem para a roubalheira dos políticos. É preciso entender que não existe possibilidade de acabarmos com a miséria sem reduzir os ganhos dos ricos e eliminar a ladroagem. Sem uma política de redução da pobreza, as chances de haver uma guerra civil no Brasil são cada vez maiores.
Nenhuma mudança social significativa acontece sem uma revolução. E não há revolução sem derramamento de sangue. E o povo brasileiro cada vez mais depauperado, mais cedo ou mais tarde, acabará tomando consciência de que só através de uma revolta armada conseguiria reverter a situação catastrófica por que estamos passando. E as elites burguesas, que querem conservar os seus privilégios, sabem disso. Seria por temer uma guerra civil iminente que eles pretendem desarmar a população?
Se a escravatura teria sido abolida no século XIX, por que os tiranos persistem em manter o povo manietado? Não, a escravidão não acabou, apenas mudou de forma. Ao invés dos grilhões, hoje a elite econômica e política utiliza-se dos instrumentos legais para tornar o povo submisso. E o Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003, é um desses artifícios. Dificilmente sairemos dessa situação calamitosa sem passarmos por uma guerra interna. Mas isso poderia ser evitado. Portanto, seria bom que os governantes e os representantes do povo (?) implementassem medidas favoráveis a toda a sociedade antes que o povo seja obrigado a partir para uma ação armada em busca de seus direitos.
Os grandes bandidos tupiniquins não moram em favelas nem vão para a cadeia. Eles vivem em mansões, têm carros de luxo, passeiam de avião, possuem bens e contas bancárias milionárias no exterior, dispõem de guarda-costas armados – e vão continuar com seguranças privados mesmo que a comercialização de armas venha a ser proibida. Os maiores criminosos deste país não usam armas de fogo para aniquilar o povo sofrido. Eles usam a política, manipulam as leis e utilizam-se dos poderes constituídos para explorar cada vez mais a população.
Os políticos todos os dias criam leis e mais leis que servem sobretudo aos interesses próprios e dos seus e dos que financiam suas campanhas eleitorais, do que para beneficiar a todos os cidadãos brasileiros, sem preocuparem-se com a opinião da população. Se a vontade do povo geralmente não é respeitada, por que haveria, então, a necessidade de realizar esse referendo ridículo? Resposta: só para fazer de conta que teria sido o povo - que é sempre ludibriado pelos politiqueiros e pela mídia vendida - quem teria dicidido pela proibição do comércio de armas de fogo no Brasil.
Alguém saberia dizer que utilidade teve o plebiscito sobre a forma de governo, realizado em 1993, que resultou na manutenção do presidencialismo? Mesmo que a escolha tivesse sido outra o pobre povo brasileiro não seria benificiado em nada. Pra que tanta enganação. Com o dinheiro que está sendo gasto inutilmente na campanha pelo "desarmamento" seria possível construir dezenas de milhares de casas populares. Mas quem se importa com os miseráveis que não têm onde morar, não é mesmo?
Ao invés de avanço da liberdade, estamos vendo mais um retrocesso. Querem tirar do cidadão o direito de decidir livremente sobre o que deve ou não fazer da sua vida. Você, caro eleitor, deve refletir bem antes de resolver se quer ou não que o comércio de armas de fogo e munição seja proibido no Brasil. Os eleitores conscientes e que entendem a verdadeira razão desse referendo ilusório – o primeiro a ser realizado em nossa pátria – certamente saberão dar, nas urnas, a resposta correta à essa farsa.
Por que não fazer um referendo com a seguinte questão: Deve ser instituída a pena de morte para os banqueiros, os empresários e os políticos ladrões no Brasil? Sem dúvida a pena capital seria aprovada pela maioria esmagadora dos eleitores brasileiros.
Nelson Heinzen,
Itajaí – SC.
[Not published by the press]

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