Os atentados terroristas nos Estados Unidos deixaram muita gente chocada no mundo todo. Os ataques de dois aviões comerciais às torres gêmeas do World Trade Center, que acabaram derrocadas, de um outro ao Pentágono (Departamento de Defesa dos EUA), e de um quarto que caiu em lugar desabitado, além de danos materiais, causaram a morte de algumas poucas mil pessoas. Diante do número de seres humanos “assassinados” mundo afora – mortos em guerras entre nações, em conflitos civis nacionais e em consequência da violência quotidiana, entre outros motivos –, isso representa pouco mesmo! Só na II Guerra Mundial, uma das maiores catástrofes humanitárias, cerca de 40 milhões foram mortos. E quanto a mortes violentas no dia a dia nos centros urbanos e nos sertões do Brasil, estima-se que 350 mil pessoas teriam sido assassinadas nos últimos 10 anos, e aproximadamente 300 mil teriam perdido a vida em acidentes de trânsito nesse período. Apesar de não haver estatísticas, é muito provável que morram por ano mais pessoas por falta de atendimento médico no território tupiniquim do que o número de mortos no fatídico 11 de Setembro na terra do Tio Sam.
Por que só aquelas mortes causaram tanta comoção? Só por que aconteceram numa nação hegemônica? Ou porque quase todas as vítimas eram de classes sociais mais elevadas? Será que as milhares de vidas humanas dizimadas pela fome em países da África e em outras partes do mundo, inclusive no Brasil, não são motivo de preocupação para todos os povos e, sobretudo, para todos os governantes do planeta? Estejamos certos de que um atentado dessa proporção num país periférico e pobre do Terceiro Mundo não ocasionaria maiores consequências. Para os dominantes, a dignidade e o orgulho dos pobres não têm valor.
Quantos militares norte-americanos já foram enviados para outros países para matar e para morrer? O Muro do Memorial aos Veteranos do Vietnã, monumento de mármore preto localizado em Washington, capital dos EUA – cidade do atingido Pentágono –, contém os nomes de mais de 58.000 norte-americanos mortos na guerra do Vietnã. Nessa guerra, que acabaria em meados da década de 1970, além de armas convencionais, os Estados Unidos empregaram também bombas químicas – de napalm e fósforo branco e de desfolhantes (agente laranja) –, que, além de centenas de milhares de soldados e civis vietnamitas, mataram também militares norte-americanos. Mas isso era legítimo. Era mesmo? Será que esses e muitos outros milhões de soldados morreram defendendo vidas humanas? Ou as guerras visam unicamente satisfazer interesses econômicos e preservar a supremacia e o poder sobre outras nações?
Alguém saberia dizer se os japoneses teriam saído mundo afora à caça dos responsáveis pelo lançamento de bombas atômicas sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki, antes do final da II Guerra Mundial, em 1945, resultando na morte de dezenas de milhares de pessoas inocentes? Resposta: os EUA, que as utilizou nessa ação monstruosa, permanecem totalmente impunes até hoje. Será que Sadam Hussein é tão cruel quanto dizem? Aqueles que atacaram o Iraque na Guerra do Golfo, em 1991, com a alegação de defender o Kuwait, e que continuam atacando e dominando quase metade do território do país de Sadam até hoje, estão preocupados com o povo iraquiano, que continua morrendo em consequência da guerra e do embargo econômico? Alguém teria alguma dúvida de que as “forças repressivas” não estariam simplesmente interessadas na principal riqueza daquela região, o petróleo?
Pra que os Estados Unidos precisam de tantos soldados, com tantos aviões, navios, tanques e outros arsenais bélicos dispostos pelos quatro cantos do mundo? Sua intromissão nos assuntos internos de outras nações tem gerado uma série de problemas, causando o ódio em muitos povos. Além dos atentados de Setembro de 2001, alguns outros já foram executados contra bases militares e embaixadas norte-americanas em vários países, praticados por nações e/ou indivíduos descontentes com a política dos EUA. Há que se entender que esses atos terroristas nada mais seriam que uma resposta às intromissões, às agressões e aos desmandos dos imperialistas ianques no mundo.
Pode ser que esse tal de Osama Bin Laden realmente tenha idealizado, planejado e ordenado os ataques aos Estados Unidos. Mas, até que se prove definitivamente sua culpa, que direito tem o governo norte-americano de impor a qualquer país, mediante ameaça de guerra, a extradição desse cidadão? Ainda que não se disponha a entregar Bin Laden, até agora só suposto responsável pelos atentados, Afeganistão ou qualquer outro país não pode ser brutalmente atacado, só para que, às custas do sacrifício de milhares de vidas humanas, os governantes e os militares dos Estados Unidos possam dar uma satisfação à opinião pública norte-americana – parece que à sociedade estrangeira não lhes importa – e para que seu presidente melhore sua popularidade. Vale lembrar que os hoje odiados Sadam e Bin Laden foram parceiros dos Estados Unidos em lutas contra outras nações daquela região há poucos anos atrás.
Por que o governo Fernando Collor, sob ordem dos Estados Unidos, fechou os poços de testes nucleares no Brasil? Por que, passados poucos anos, o governo Fernado Henrique entregaria aquela área da Base Espacial de Alcântara – que ocupa quase todo o território desse município do Maranhão –, para os norte-americanos? Será que esses governos fernandinos teriam sido puramente covardes e entreguistas? Muito provavelmente existam fatores nebulosos por trás disso, mas mostra-se para o povo que se faz necessário, que é tudo normal. Afinal de contas, dizem, não temos capital para invertir em tecnologia. Não dispomos de recursos para investir em saúde, educação, habitação, tecnologia, por que estamos permanentemente endividados e pagando somas elevadíssimas de juros ao capital financeiro internacional.
E a expropriação de nossos recursos pelos países ricos, juntamente com a exacerbada concentração de renda no país, não têm sido causa da miséria da maior parte da população brasileira, que está morrendo de fome e sem assistência social nas periferias das grandes cidades e no interior do país? Esse terrorismo implícito é, com certeza, muito mais agressivo, mais destrutivo, mais mortífero do que muitas bombas e alguns aviões atirados sobre edificações por aí. Tem-se que combater, sim, é esse terrorismo avassalador, imperativo, que domina o Sistema. Será que, diante de tantos descalabros, o povo brasileiro, cada vez mais depauperado, permanecerá eternamente ordeiro e pacífico?
Esses lamentáveis incidentes nos EUA deveriam servir, no mínimo, para provocar uma reflexão sobre o pensamento e o comportamento das superpotências bélicas e econômicas, bem como dos políticos e dos governantes que comandam o nosso país. Enquanto houver tantas desigualdades econômicas e sociais entre nações e entre pessoas a violência jamais desaparecerá. Quanto mais for investido nas pessoas, menos precisa ser investido em segurança.
Nelson Heinzen,
Itajaí – SC.
[DL, 24/02/2003, p. 4 e 5]
Por que só aquelas mortes causaram tanta comoção? Só por que aconteceram numa nação hegemônica? Ou porque quase todas as vítimas eram de classes sociais mais elevadas? Será que as milhares de vidas humanas dizimadas pela fome em países da África e em outras partes do mundo, inclusive no Brasil, não são motivo de preocupação para todos os povos e, sobretudo, para todos os governantes do planeta? Estejamos certos de que um atentado dessa proporção num país periférico e pobre do Terceiro Mundo não ocasionaria maiores consequências. Para os dominantes, a dignidade e o orgulho dos pobres não têm valor.
Quantos militares norte-americanos já foram enviados para outros países para matar e para morrer? O Muro do Memorial aos Veteranos do Vietnã, monumento de mármore preto localizado em Washington, capital dos EUA – cidade do atingido Pentágono –, contém os nomes de mais de 58.000 norte-americanos mortos na guerra do Vietnã. Nessa guerra, que acabaria em meados da década de 1970, além de armas convencionais, os Estados Unidos empregaram também bombas químicas – de napalm e fósforo branco e de desfolhantes (agente laranja) –, que, além de centenas de milhares de soldados e civis vietnamitas, mataram também militares norte-americanos. Mas isso era legítimo. Era mesmo? Será que esses e muitos outros milhões de soldados morreram defendendo vidas humanas? Ou as guerras visam unicamente satisfazer interesses econômicos e preservar a supremacia e o poder sobre outras nações?
Alguém saberia dizer se os japoneses teriam saído mundo afora à caça dos responsáveis pelo lançamento de bombas atômicas sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki, antes do final da II Guerra Mundial, em 1945, resultando na morte de dezenas de milhares de pessoas inocentes? Resposta: os EUA, que as utilizou nessa ação monstruosa, permanecem totalmente impunes até hoje. Será que Sadam Hussein é tão cruel quanto dizem? Aqueles que atacaram o Iraque na Guerra do Golfo, em 1991, com a alegação de defender o Kuwait, e que continuam atacando e dominando quase metade do território do país de Sadam até hoje, estão preocupados com o povo iraquiano, que continua morrendo em consequência da guerra e do embargo econômico? Alguém teria alguma dúvida de que as “forças repressivas” não estariam simplesmente interessadas na principal riqueza daquela região, o petróleo?
Pra que os Estados Unidos precisam de tantos soldados, com tantos aviões, navios, tanques e outros arsenais bélicos dispostos pelos quatro cantos do mundo? Sua intromissão nos assuntos internos de outras nações tem gerado uma série de problemas, causando o ódio em muitos povos. Além dos atentados de Setembro de 2001, alguns outros já foram executados contra bases militares e embaixadas norte-americanas em vários países, praticados por nações e/ou indivíduos descontentes com a política dos EUA. Há que se entender que esses atos terroristas nada mais seriam que uma resposta às intromissões, às agressões e aos desmandos dos imperialistas ianques no mundo.
Pode ser que esse tal de Osama Bin Laden realmente tenha idealizado, planejado e ordenado os ataques aos Estados Unidos. Mas, até que se prove definitivamente sua culpa, que direito tem o governo norte-americano de impor a qualquer país, mediante ameaça de guerra, a extradição desse cidadão? Ainda que não se disponha a entregar Bin Laden, até agora só suposto responsável pelos atentados, Afeganistão ou qualquer outro país não pode ser brutalmente atacado, só para que, às custas do sacrifício de milhares de vidas humanas, os governantes e os militares dos Estados Unidos possam dar uma satisfação à opinião pública norte-americana – parece que à sociedade estrangeira não lhes importa – e para que seu presidente melhore sua popularidade. Vale lembrar que os hoje odiados Sadam e Bin Laden foram parceiros dos Estados Unidos em lutas contra outras nações daquela região há poucos anos atrás.
Por que o governo Fernando Collor, sob ordem dos Estados Unidos, fechou os poços de testes nucleares no Brasil? Por que, passados poucos anos, o governo Fernado Henrique entregaria aquela área da Base Espacial de Alcântara – que ocupa quase todo o território desse município do Maranhão –, para os norte-americanos? Será que esses governos fernandinos teriam sido puramente covardes e entreguistas? Muito provavelmente existam fatores nebulosos por trás disso, mas mostra-se para o povo que se faz necessário, que é tudo normal. Afinal de contas, dizem, não temos capital para invertir em tecnologia. Não dispomos de recursos para investir em saúde, educação, habitação, tecnologia, por que estamos permanentemente endividados e pagando somas elevadíssimas de juros ao capital financeiro internacional.
E a expropriação de nossos recursos pelos países ricos, juntamente com a exacerbada concentração de renda no país, não têm sido causa da miséria da maior parte da população brasileira, que está morrendo de fome e sem assistência social nas periferias das grandes cidades e no interior do país? Esse terrorismo implícito é, com certeza, muito mais agressivo, mais destrutivo, mais mortífero do que muitas bombas e alguns aviões atirados sobre edificações por aí. Tem-se que combater, sim, é esse terrorismo avassalador, imperativo, que domina o Sistema. Será que, diante de tantos descalabros, o povo brasileiro, cada vez mais depauperado, permanecerá eternamente ordeiro e pacífico?
Esses lamentáveis incidentes nos EUA deveriam servir, no mínimo, para provocar uma reflexão sobre o pensamento e o comportamento das superpotências bélicas e econômicas, bem como dos políticos e dos governantes que comandam o nosso país. Enquanto houver tantas desigualdades econômicas e sociais entre nações e entre pessoas a violência jamais desaparecerá. Quanto mais for investido nas pessoas, menos precisa ser investido em segurança.
Nelson Heinzen,
Itajaí – SC.
[DL, 24/02/2003, p. 4 e 5]